Prefeituras do Norte de SC lutam para evitar estragos causados pela ressaca do mar (SC)

Em vez de faixas de areia, muitas pedras, buracos e entulho. É nisso que se transformaram algumas das praias do Norte do Estado após as últimas ressacas do mar. Aliás, Netuno, o rei dos mares na mitologia romana, tem dado trabalho para as Prefeituras de São Francisco do Sul, Itapoá, Balneário Barra do Sul, Barra Velha e Balneário Piçarras.

As praias sofrem com a chamada erosão costeira – a faixa de areia está sumindo por causa de grandes ressacas ou mesmo pelo avanço do mar. A diferença das praias em comparação com duas ou três décadas atrás é gritante.

A faixa de areia era mais larga – entre 50 e 100 metros. Prefeituras investiram valores astronômicos com a elaboração de projetos, dragagens e construção de molhes para tentar evitar a erosão. E mesmo com as obras, parece que os problemas voltam a cada nova ressaca.

Estudos detalhados foram solicitados pelas prefeituras da região para identificar a razão destes processos erosivos. Em 2006, por exemplo, um livro publicado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) chamado “Erosão e Progradação do Litoral Brasileiro”, reuniu pesquisas de universidades que analisaram o litoral de 17 Estados do País.

O Litoral Norte de Santa Catarina foi avaliado por especialistas da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), que observaram que nas últimas três décadas, a região passou por um “acelerado processo de desenvolvimento urbano” e que a maioria destes municípios não apresentava “políticas de planejamento regional e urbano”.

Ocupações perto do mar

Segundo o oceanógrafo e professor da Univali, Rafael Sangoi, um exemplo comum em Santa Catarina é a ocupação da faixa de areia muito perto do mar. São casas, ruas, calçadões e até condomínios residenciais, construídos na areia e que são fortemente atingidos pelas ressacas.

— Durante estes eventos extremos, muita areia é remobilizada pela ação das ondas, e parte desta areia é transportada pelas correntes de deriva litorânea ao longo da costa, causando um déficit no médio e longo prazo —, explicou.

Para o oceanógrafo, vale lembrar que a zona costeira é dinâmica e que praias, dunas e estuários (a parte final de um rio, no encontro com o mar) podem modificar e até desaparecer com os anos.

— Isso ocorre devido à ação de ondas, correntes e ventos costeiros. Isto faz parte do ciclo natural. O problema surge quando há ocupação humana da zona costeira, quase sempre de forma desordenada, não respeitando os limites físicos de preservação destes ambientes —, avaliou.

A Praia do Ervino, em São Chico, é um exemplo. A área de preservação permanente foi pouco explorada e quase não há construções sobre ela.

— A onda que chega em Itajaí é a mesma que chega em São Francisco. Só que a Praia Grande e o Ervino têm dunas e restinga preservadas —, diz o oceanógrafo e professor da Univali, João Thadeu de Menezes.

Como não é possível sair tirando casas, calçadas e avenidas do lugar de uma hora para a outra, cabe às Prefeituras travar uma verdadeira queda de braço com Netuno.

Itapoá

Em fevereiro deste ano, o avanço do mar acabou com a faixa de areia na praia do Pontal Norte. Até o mirante da praia corre o risco de desabar. Não foi a primeira vez que a praia sentiu a força do mar. Associações de moradores se uniram e criaram o movimento “SOS – A Orla de Itapoá Pede Socorro” para sensibilizar a população e o poder público sobre o problema.

O que está sendo feito

Com o apoio do Porto Itapoá, as associações apresentaram algumas possíveis alternativas para a Prefeitura. Um especialista apresentou o sistema de dissipadores de energia bagwall, um distribuidor natural de energia das ondas do mar, que serve para conter o avanço da água e recuperar a faixa de areia. Esta contenção pode ser feita com concreto, em forma de escadas ou pedras. Segundo o secretário de Meio Ambiente de Itapoá, Paulo Cezar Silveira, uma empresa se mostrou interessada em realizar um estudo, mas não há projeto em andamento.

Para evitar a erosão, é só não interferir

Não é possível prever os estragos que uma forte ressaca pode causar. Também é impossível evitar que fenômenos como as chamadas marés astronômicas, influenciadas pela lua e pelo sol, e marés meteorológicas, que são causadas pelas frentes frias, aconteçam. Uma das poucas soluções para evitar os prejuízos é evitar as construções em faixas de areia e em áreas próximas ao mar.

Mas como o desenvolvimento urbano já atingiu a costa, agora é preciso urgência. E não sairá barato. Dois dos recursos mais utilizados são a recomposição da faixa de areia, por meio de aterros – quando a areia é extraída de um local e depositada em outro – e a construção de molhes, como vem ocorrendo em Piçarras. Mas estes métodos são questionados.

Para os pesquisadores, qualquer obra costeira, como molhes, espigões e quebra-mares interfere em alguma forma na vida e geografia marinha e deveria ser considerada como o último recurso na tentativa de evitar os processos erosivos. Os muros de contenção, que são levantados muitas vezes pelos próprios moradores têm, segundo os especialistas, pouca ou nenhuma eficácia a médio e longo prazos. A quebra das ondas nestas estruturas continua removendo a areia da base e a erosão é certa.

Do site do Jornal “A Notícia”, com adaptações do Diário de Itapoá. Fotos de Claudia Baartsch (Farol do Pontal, em Itapoá) e de Diorgenes Pandini (Praia de Piçarras), da Agência RBS.

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