Avanço do mar provoca novos desabamentos em Ponta Negra (RN)
O mar avançou de novo na Praia de Ponta Negra e provocou o desabamento de mais dois trechos do calçadão durante o final de semana, nas imediações do Quiosque 12. Um poste foi retirado porque corria o risco de cair. Já são pelo menos oito trechos da estrutura do calçadão comprometidos com a força das marés nos últimos quinze dias. Os pontos mais críticos ficam na região do calçadão que se aproxima da Via Costeira, tendo em vista que a força da água da praia se soma à maior velocidade das ondas e à intensidade dos ventos, menos fortes na região do Morro do Careca. Problemas como esses foram observados ontem durante vistoria do Ministério Público Estadual e de várias secretarias municipais, além de órgãos do Governo do Estado e de representantes dos comerciantes da praia. A vistoria foi coordenada pela promotora do meio ambiente Gilka da Mata.
Os trabalhadores de Ponta Negra se disseram preocupados principalmente com a força das marés. "Tem que ser feita alguma coisa enquanto é tempo. Se demorar mais vamos perder a nossa praia", alertou o comerciante Rosivaldo Carvalho, proprietário do Quiosque 1, o mais próximo ao Morro do Careca, cartão-postal da capital. "Antes a gente trabalhava a sete ou dez metros de distância do calçadão. Agora perdemos essa área de proteção. Aqui próximo ao calçadão havia uma areia fofinha, seca. Hoje sempre está molhada. E nós estamos trabalhando junto ao calçadão porque lá na frente não há mais espaço", acrescentou o presidente da Associação dos Locatários de Cadeiras de Praia, Gênesis Ferreira de Arruda.
A vistoria serviu para observar in loco os problemas da praia de Ponta Negra. "Há problemas como a falta de iluminação noturna no Morro do Careca, falta de banheiros para os frequentadores da praia, línguas negras correndo com esgoto para o mar e falta de estrutura no calçadão", elencou o presidente da Associação dos Trabalhadores de Ponta Negra (Atipon), Marcos Martins. "Viemos conferir os problemas e trouxemos as pessoas que estãoaptas a dar soluções. Isso aqui na verdade é o começo, o pontapé inicial. Agora vamos fazer reuniões técnicas para listar os problemas e dar soluções para todos eles", disse a promotora Gilka da Mata.
No caso da deterioração do calçadão, talvez o mais crítico dos problemas, já existem estudos no Departamento de Geologia da UFRN que alertam para os riscos da erosão costeira. Por sinal, o professor e estudioso Venerando Amaro acompanhou a comitiva e sugeriu a possibilidade de fazer a engorda da praia, ou seja, trazer de volta a areia que a água leva para regiões mais distantes da beira-mar através de dragas, ou mesmo a construção de um quebra-mar, que faria a contenção da areia que se arrasta na maré alta com barreiras de pedras. "A situação aqui é dramática, eu diria. A praia de Ponta Negra está desaparecendo", alertou ele.
Segundo o estudioso, há uma retirada muito grande de areia da orla e pouca chegada de material. "Sabemos que é uma questão sazonal, mas percebemos um déficit muito grande dos últimos anospara cá. Aquele material que chega não tem sido suficiente para fazer uma engorda natural, que seria o ganho de areia. A cada ano percebemos a diminuição do volume de areia na praia", constatou Venerando. Ele disse que os estudos que realiza na costa urbana de Natal foram divididos em vários trechos. O de Ponta Negra compreende a área que vai do Morro do Careca ao Ocean Palace, primeiro hotel da Via Costeira.
O secretário Luiz Antônio Lopes (Semsur) confirmou que o município já avalia a possibilidade de fazer um estudo minucioso sobre a erosão costeira em Ponta Negra. "O estudo vai encontrar o tipo de mecanismo que vai aumentar a faixa de areia da orla: se vai ser engorda ou mesmo um espigão. Também é preciso fazer um EIA/RIMA [Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental] para garantir que essas intervenções não vão causar prejuízos em outros trechos", disse.
A arquiteta e urbanista Rosa Pinheiro, que presta assistência ao Centro de Apoio Operacional da Promotoria do Meio Ambiente (Caop/MA), lembrou que o processo de erosão é contínuo. "Para se manter a estrutura urbana que já existe na região, é preciso alguma alternativa. Uma delas é a engorda da praia. Outra é o quebra-mar, como o que existe em Areia Preta. A engorda é feita porque a areia fica contida entre os espigões. Aqui nós ainda não sabemos qual a alternativa mais adequada".
Alternativas precisam ser bem pensadas
Combater a erosão é que poderá mudar a geografia da praia, mas possibilita o convívio sustentável do homem com a natureza. A contenção com uma barreira de pedras, chamada popularmente de "quebra-mar" é a solução mais simples para se evitar problemas de erosão costeira. Mas ao passo que combate a erosão, também tira a beleza da praia. "As intervenções precisam ser feitas, mas é preciso se conhecer muito bem o problema que causa a erosão costeira", disse Venerando Amaro, professor da UFRN.
Ele assegurou que antes de fazer as intervenções é necessário conhecer o processo costeiro. "Fazer o levantamento das condições hidrodinâmicas, como atuam as ondas, as correntes e os ventos ao longo de pelo menos 14 meses. Teríamos um ciclo, períodos de chuva, períodos secos, e assim por diante. Já sabemos aqui que a areia da praia é levada para a região Norte do litoral. No caso de Areia Preta, a solução encontrada foi um Quebra-Mar porque lá é uma praia menor. A solução para o problema aqui tem que atender também à questãoturística. Ninguém quer uma praia turística como Ponta Negra com um quebra-mar na frente, a não ser que isso seja submerso. Existem várias alternativas", lembrou.
Estrutura da praia deixa a desejar
A inspeção do MP averiguou toda a estrutura organizacional e física da praia, observando também questões relacionadas ao cuidado com o meio ambiente. Além do Ministério Público e da Semsur, estiveram presentes entidades como a Associação dos Trabalhadores de Ponta Negra (Atpon) e a Associação dos Locatários de Cadeiras, e órgãos como Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) e Superintendência do Patrimônio da União (SPU), entre outros. O primeiro problema verificado junto aos comerciantes foi a falta de iluminação noturna no Morro do Careca. Ficou constatado que o sistema de leds, com lâmpadas frias, não afetam nem a fauna nem a flora da mata.
Outro problema foi o aumento irregular de alguns estabelecimentos na faixa de areia. "Os pescadores da Vila de Ponta Negra também não tem um rancho, um local para colocar o que eles chamam de 'tralhas'. A SPU presenteou os pescadores com um rancho. Outro problema são duas escadas públicas existentes aqui, que estão inacessíveis, não deixando nem pessoas nem carros descer à praia", apontou Marcos Martins. A vistoria também passou pela faixa de areia, e percebeu algumas caixas de tubulação secas e línguas negras oriundas de bocas de lobo, especialmente no final da Av. Erivan França. Alguns quiosques também estão com estrutura comprometida. A degradação ameaça o desabamento da construção.
Grande parte dos problemas verificados na praia de Ponta Negra já são de conhecimento da Secretaria de Serviços Urbanos (Semsur), mas o secretário Luiz Antônio Lopes, disse que trazer várias secretarias e órgãos do governo na vistoria contribui para se planejar ações mais eficazes para dar soluções práticas. "É o momento oportuno para se fazer uma discussão mais ampla sobre o uso da orla de Ponta Negra. As intervenções aqui só vão existir se fizermos ações em conjunto. Encontramos vários problemas, por exemplo, que se referem à rede de esgotos da Caern. A ideia é um olhar da totalidade", argumentou.
Ceará e Rio de Janeiro são exemplos
Com relação à engorda, uma das soluções foi se fazer algo semelhante ao que foi feito na Praia de Iracema, em Fortaleza, ou na Enseada de Botafogo, no Rio de Janeiro. Copacabana, também no Rio, foi citada como outro bom exemplo: os banheiros públicos fixos existentes na praia mais famosa do Brasil ficam no subsolo. São limpos e úteis a quem quer trocar de roupa na praia e ir ao trabalho, por exemplo. Sobre a construção de banheiros públicos permanentes na praia de Ponta Negra, Luiz Antônio Lopes disse que a Semsur não tem dotação orçamentária nem condições de fazer uma licitação para construção de estruturas fixas. Atualmente o aluguel de banheiros químicos para a orla de Natal é responsabilidade da Secretaria de Turismo e Desenvolvimento Econômico (Seturde). "Já temos conhecimento de que a Seturde vai fazer uma parceria com o setor privado para se construir banheiros fixos aqui na praia", adiantou o secretário da Semsur.
Os trabalhadores de Ponta Negra se disseram preocupados principalmente com a força das marés. "Tem que ser feita alguma coisa enquanto é tempo. Se demorar mais vamos perder a nossa praia", alertou o comerciante Rosivaldo Carvalho, proprietário do Quiosque 1, o mais próximo ao Morro do Careca, cartão-postal da capital. "Antes a gente trabalhava a sete ou dez metros de distância do calçadão. Agora perdemos essa área de proteção. Aqui próximo ao calçadão havia uma areia fofinha, seca. Hoje sempre está molhada. E nós estamos trabalhando junto ao calçadão porque lá na frente não há mais espaço", acrescentou o presidente da Associação dos Locatários de Cadeiras de Praia, Gênesis Ferreira de Arruda.
A vistoria serviu para observar in loco os problemas da praia de Ponta Negra. "Há problemas como a falta de iluminação noturna no Morro do Careca, falta de banheiros para os frequentadores da praia, línguas negras correndo com esgoto para o mar e falta de estrutura no calçadão", elencou o presidente da Associação dos Trabalhadores de Ponta Negra (Atipon), Marcos Martins. "Viemos conferir os problemas e trouxemos as pessoas que estãoaptas a dar soluções. Isso aqui na verdade é o começo, o pontapé inicial. Agora vamos fazer reuniões técnicas para listar os problemas e dar soluções para todos eles", disse a promotora Gilka da Mata.
No caso da deterioração do calçadão, talvez o mais crítico dos problemas, já existem estudos no Departamento de Geologia da UFRN que alertam para os riscos da erosão costeira. Por sinal, o professor e estudioso Venerando Amaro acompanhou a comitiva e sugeriu a possibilidade de fazer a engorda da praia, ou seja, trazer de volta a areia que a água leva para regiões mais distantes da beira-mar através de dragas, ou mesmo a construção de um quebra-mar, que faria a contenção da areia que se arrasta na maré alta com barreiras de pedras. "A situação aqui é dramática, eu diria. A praia de Ponta Negra está desaparecendo", alertou ele.
Segundo o estudioso, há uma retirada muito grande de areia da orla e pouca chegada de material. "Sabemos que é uma questão sazonal, mas percebemos um déficit muito grande dos últimos anospara cá. Aquele material que chega não tem sido suficiente para fazer uma engorda natural, que seria o ganho de areia. A cada ano percebemos a diminuição do volume de areia na praia", constatou Venerando. Ele disse que os estudos que realiza na costa urbana de Natal foram divididos em vários trechos. O de Ponta Negra compreende a área que vai do Morro do Careca ao Ocean Palace, primeiro hotel da Via Costeira.
O secretário Luiz Antônio Lopes (Semsur) confirmou que o município já avalia a possibilidade de fazer um estudo minucioso sobre a erosão costeira em Ponta Negra. "O estudo vai encontrar o tipo de mecanismo que vai aumentar a faixa de areia da orla: se vai ser engorda ou mesmo um espigão. Também é preciso fazer um EIA/RIMA [Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental] para garantir que essas intervenções não vão causar prejuízos em outros trechos", disse.
A arquiteta e urbanista Rosa Pinheiro, que presta assistência ao Centro de Apoio Operacional da Promotoria do Meio Ambiente (Caop/MA), lembrou que o processo de erosão é contínuo. "Para se manter a estrutura urbana que já existe na região, é preciso alguma alternativa. Uma delas é a engorda da praia. Outra é o quebra-mar, como o que existe em Areia Preta. A engorda é feita porque a areia fica contida entre os espigões. Aqui nós ainda não sabemos qual a alternativa mais adequada".
Alternativas precisam ser bem pensadas
Combater a erosão é que poderá mudar a geografia da praia, mas possibilita o convívio sustentável do homem com a natureza. A contenção com uma barreira de pedras, chamada popularmente de "quebra-mar" é a solução mais simples para se evitar problemas de erosão costeira. Mas ao passo que combate a erosão, também tira a beleza da praia. "As intervenções precisam ser feitas, mas é preciso se conhecer muito bem o problema que causa a erosão costeira", disse Venerando Amaro, professor da UFRN.
Ele assegurou que antes de fazer as intervenções é necessário conhecer o processo costeiro. "Fazer o levantamento das condições hidrodinâmicas, como atuam as ondas, as correntes e os ventos ao longo de pelo menos 14 meses. Teríamos um ciclo, períodos de chuva, períodos secos, e assim por diante. Já sabemos aqui que a areia da praia é levada para a região Norte do litoral. No caso de Areia Preta, a solução encontrada foi um Quebra-Mar porque lá é uma praia menor. A solução para o problema aqui tem que atender também à questãoturística. Ninguém quer uma praia turística como Ponta Negra com um quebra-mar na frente, a não ser que isso seja submerso. Existem várias alternativas", lembrou.
Estrutura da praia deixa a desejar
A inspeção do MP averiguou toda a estrutura organizacional e física da praia, observando também questões relacionadas ao cuidado com o meio ambiente. Além do Ministério Público e da Semsur, estiveram presentes entidades como a Associação dos Trabalhadores de Ponta Negra (Atpon) e a Associação dos Locatários de Cadeiras, e órgãos como Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) e Superintendência do Patrimônio da União (SPU), entre outros. O primeiro problema verificado junto aos comerciantes foi a falta de iluminação noturna no Morro do Careca. Ficou constatado que o sistema de leds, com lâmpadas frias, não afetam nem a fauna nem a flora da mata.
Outro problema foi o aumento irregular de alguns estabelecimentos na faixa de areia. "Os pescadores da Vila de Ponta Negra também não tem um rancho, um local para colocar o que eles chamam de 'tralhas'. A SPU presenteou os pescadores com um rancho. Outro problema são duas escadas públicas existentes aqui, que estão inacessíveis, não deixando nem pessoas nem carros descer à praia", apontou Marcos Martins. A vistoria também passou pela faixa de areia, e percebeu algumas caixas de tubulação secas e línguas negras oriundas de bocas de lobo, especialmente no final da Av. Erivan França. Alguns quiosques também estão com estrutura comprometida. A degradação ameaça o desabamento da construção.
Grande parte dos problemas verificados na praia de Ponta Negra já são de conhecimento da Secretaria de Serviços Urbanos (Semsur), mas o secretário Luiz Antônio Lopes, disse que trazer várias secretarias e órgãos do governo na vistoria contribui para se planejar ações mais eficazes para dar soluções práticas. "É o momento oportuno para se fazer uma discussão mais ampla sobre o uso da orla de Ponta Negra. As intervenções aqui só vão existir se fizermos ações em conjunto. Encontramos vários problemas, por exemplo, que se referem à rede de esgotos da Caern. A ideia é um olhar da totalidade", argumentou.
Ceará e Rio de Janeiro são exemplos
Com relação à engorda, uma das soluções foi se fazer algo semelhante ao que foi feito na Praia de Iracema, em Fortaleza, ou na Enseada de Botafogo, no Rio de Janeiro. Copacabana, também no Rio, foi citada como outro bom exemplo: os banheiros públicos fixos existentes na praia mais famosa do Brasil ficam no subsolo. São limpos e úteis a quem quer trocar de roupa na praia e ir ao trabalho, por exemplo. Sobre a construção de banheiros públicos permanentes na praia de Ponta Negra, Luiz Antônio Lopes disse que a Semsur não tem dotação orçamentária nem condições de fazer uma licitação para construção de estruturas fixas. Atualmente o aluguel de banheiros químicos para a orla de Natal é responsabilidade da Secretaria de Turismo e Desenvolvimento Econômico (Seturde). "Já temos conhecimento de que a Seturde vai fazer uma parceria com o setor privado para se construir banheiros fixos aqui na praia", adiantou o secretário da Semsur.
Fonte: dnonline.com.br
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