Jacaraípe pede Socorro II (ES)

Onda do Barrote e outros points da região estão ameaçados por possíveis projetos da Prefeitura Municipal da Serra - Foto: Oswaldo Bissoli
O Balneário de Jacaraípe, localizado na Serra-ES, e sua praia conhecida como Barrote, uma das mais importantes praias do bairro, tanto no aspecto de valorização imobiliária, quanto pela sua vocação turística, de lazer e também para prática de esportes, especialmente o surf e suas vertentes, nos últimos anos vem sofrendo um processo de erosão marinha, comum na maior parte da costa brasileira, mas muito mais intenso nesse trecho da praia.

Todas as suspeitas sobre esse aumento da erosão estão recaindo nas mudanças feitas no píer, onde desemboca o Rio Jacaraípe, pela prefeitura municipal da Serra-PMS a uns 2 anos. O píer, que originalmente ficava com a saída do rio voltada para o sul, teve sua saída invertida para o lado norte e sua extensão, em direção ao fundo do mar, dobrada a pedido dos pescadores da região, para evitar acidentes com suas embarcações. Porém, essa mudança no píer de direção e tamanho está, ao que tudo indica, mudando as correntes marinhas da região e acelerando a erosão na praia. Uma prova disso é que um volume enorme de areia se acumulou na margem esquerda, ao norte do píer, tanto que em sua extensão original (fácil de visualizar pelas pedras mais irregulares e diferentes do novo trecho) antes rodeada de água, hoje só existe areia. Outro fato que leva a essa conclusão, é que em dias de vento e corrente nordeste (predominantes na região) a água do rio ao sair pela sua foz fica circulando próxima ao píer sem se dissipar para o fundo do mar, o que é comprovado ao se observar a cor escura e o mau cheiro no local, devido a alta poluição do rio. Outra evidência desse processo é a dificuldade dos pescadores em sair pela foz do rio Jacaraípe pela rasa lâmina dagua que se formou com o processo de assoreamento na saída e entorno do píer.

Esses pescadores, antes beneficiados com essa obra, hoje reclamam das dificuldades em sair e entrar no mar, principalmente em horários de maré seca. A pergunta é: de onde veio toda essa areia que se acumula próxima ao pier? Veja as fotos do píer antes das mudanças, em 2002, e agora, em 2012, e tire suas conclusões.

Surpreendentemente, e alheia a esses fatos, a PMS informou em reportagem de TV, por meio de seu secretário de meio ambiente, o Sr. Cláudio Denícole, que “não há provas de que as modificações no píer sejam as causadoras da erosão acelerada na praia do Barrote”, e que contratará (por mais de R$ 1 milhão) uma empresa para realizar um estudo ambiental que aponte soluções para o problema. Disse também, que entre as possíveis alternativas estão obras de engenharia, que custarão mais algumas centenas de milhões de reais, como “a construção de um novo píer entre o Barrote e o Solemar e a dragagem de uma jazida de areia no fundo do mar para recompor a faixa de areia da praia”.

É decepcionante um secretário de meio ambiente propor outra obra de engenharia para a praia de Jacaraípe, uma área de preservação permanente –APP, como única alternativa ao problema de erosão, e que não se mostrou eficiente até agora, visto que as mudanças no píer é que aceleraram esse processo.

É importante informar que toda praia de Jacaraípe é coberta por recifes de corais que abrigam milhares de espécies marinhas e são berçário de jovens mariscos. A instalação de um novo píer e o processo de dragagem no fundo do mar causariam danos irreparáveis à fauna e flora marinhas da região. Além disso, a qualidade das ondas ficaria totalmente prejudicada correndo o risco de Jacaraípe se tornar uma nova praia de Camburi em Vitória, que possui 3 piers que bloqueiam totalmente a entrada de ondulações e geram uma poluição visual.

Jacaraípe sempre teve forte ligação com o Surf, realizando campeonatos de nível estadual, e até nacional, sendo sede da ASEES, primeira associação de surf fundada no estado, e pelo grande fluxo de praticantes, deste, e de outros esportes náuticos ligados às ondas, que se deslocam de toda Grande Vitória para aqui se desenvolverem.

Além disso, existe toda uma estrutura local para atender essas pessoas, como lojas de roupas e acessórios, fábricas de pranchas, lanchonetes e etc, que teriam muitos prejuízos com a redução, ou até mesmo a extinção, das ondas da região. A comunidade do surf tem que se mobilizar contra essas propostas.

Antes de realizar novas intervenções de engenharia civil, altamente impactantes a qualquer ecossistema, a secretaria municipal de meio ambiente, na função de defensora do meio ambiente, deveria realizar estudos para corrigir o píer existente, e iniciar com urgência um projeto de recuperação da Restinga, vegetação nativa da praia, para ajudar a conter a erosão marinha. Deveria, também, realizar a despoluição do rio Jacaraípe para tentar fomentar o turismo local, que com esse, e outros problemas, praticamente acabou no município da Serra.

De forma emergencial poderia ser retirada parte da areia que está acumulada em excesso no rio e no entorno do píer, através de dragagem e tratores, até para facilitar a saída dos pescadores, e depositá-la ao longo da praia onde houver problemas com erosão. E, antes de qualquer iniciativa mais complexa, a prefeitura deveria chamar a população e entidades representativas da sociedade para o diálogo, através de audiências públicas, e propor soluções que signifiquem menos impactos ambientais, menos custos para a população, e conciliem os interesses de todos os grupos sociais que utilizam a praia: moradores, comerciantes, turistas, surfistas e pescadores.

Por Pablo Torres. Geógrafo pós-graduado em Gestão Ambiental, diretor da ASEES, morador e surfista de Jacaraípe.
 Fonte: ondaon.com.br

Comentários

Anônimo disse…
surfo em jacaraipe ja faz uns 3 anos infelizmnete ta ficando cada dia pior para pratica pois esse pier acabou com as ondas.
Guilherme Suzano disse…
Acho que se não deve comparar a praia de Camburi à praia do Barrote, principalmente em relação a construção dos molhes. Os molhes de Camburi são de tamanho curto, o que diminui a erosão da camada de areia mais à esquerda do empreendimento, e apesar de não resolver totalmente o problema da erosão, que é inevitável (e só é um problema devido à construção civil imprudente), atingiu o objetivo esperado. O molhe do Barrote foi muito alongado e virado pro norte com a intenção de ajudar os barcos a passar da arrebentação, visto que as frentes frias são bem mais violentas em relação ao vento nordeste, predominante. Outra diferença é que em Camburi houve um aterro da praia, que em Jacaraípe não aconteceu.
Desconheço a presença de recifes de corais em toda extensão da praia de Jacaraípe, mas é possível observar que onde há afloramentos rochosos na praia, o impacto da erosão pelas ondas é bastante limitado, podendo haver surgimento de vegetação de restinga. Inclusive, a espécie de restinga da região é muito sensível às transformações do meio, de modo que seria bem complicada a recuperação em um local instável desse, o que é triste.
No mais, mesmo se algo bem planejado for feito, alguém sairá perdendo.. surfistas ou pescadores.
Como sou surfista, sou a favor do abaixo assinado.
Anônimo disse…
Sou proprietario de um apartamento em jacaraipe e venho até 4 vezes por ano passear, observei que as aguas estão superando a pista de caminhada e chegando até ao asfalto, qual o motivo?
se poderem me explicar ficaria muito grato.

Alcino Araujo.
alcinoaraujoferreira@hotmail.com

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