À espera de um milagre
Com o nível dos oceanos subindo por causa do aquecimento global, o arquipélago de Kiribati pode sumir e o governo já negocia terras em ilhas vizinhas para iniciar a migração em massa
FÉ Sobre barragem feita para conter o avanço do mar, grupo católico de kiribatianos reza para que Jesus volte e salve o arquipélag |
Quando estiver pronto para receber a Copa de 2014, o estádio do Maracanã terá uma capacidade para 76 mil pessoas. Kiribati, país que ocupa um arquipélago no Pacífico, está se preparando para despachar dois Maracanãs lotados para uma nação vizinha. Isso porque as ilhotas correm o risco de chegar ao final deste século engolidas pelo oceano. O processo parece irreversível: o aquecimento global derrete calotas polares, o nível do mar sobe e cobre uma região cujo ponto mais elevado não passa dos sete metros. Se o plano de deslocar a população se concretizar, será a maior migração forçada pelo clima da história.
Todo começo de ano, os kiribatianos são lembrados de que a necessidade de arrumar as malas se aproxima. Cada vez mais violentas, as ondas invadem as ruas de areia do arquipélago, destroem casas, espalham lixo e criam gigantescas poças permanentes. Outras soluções foram imaginadas. Primeiro, cercar as ilhas com paredões, ao custo de US$ 1 bilhão cada um. Pelo dobro disso, o governo cogitou produzir ilhas artificiais e flutuantes, similares às plataformas de petróleo. Nenhuma das ideias se mostrou viável.
O presidente Anote Tong não viu outra saída que não bater na porta do governo das Ilhas Fiji e iniciar a negociação para a compra de uma área de 20 quilômetros quadrados para dar uma nova casa para os kiribatianos. Tong não planeja embarcar todos os seus conterrâneos de uma vez. “Eles precisam encontrar empregos, não na condição de refugiados, mas como imigrantes com habilidades para oferecer”, disse ele em entrevista ao Canal One, de Fiji. Para facilitar a adaptação dos kiribatianos ao novo território, o governo já colocou em prática o programa Educação para a Migração.
De longe, moradores de outras ilhas acompanham com apreensão o caso de Kiribati. Se as previsões mais pessimistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas se confirmarem, os oceanos chegarão ao final do século 59 cm mais altos. Isso varreria do mapa o arquipélago de Tuvalu e as Ilhas Maldivas. Por enquanto, os tuvaluanos ainda acreditam que diques e muros podem resolver o problema. Mais atento ao exemplo de Kiribati, o governo das Maldivas já estuda comprar terras em outros países.
Para quem estuda os povos que se espalham pelas ilhas do Pacífico, o fato de as migrações forçadas pelo clima começarem por ali é um problema menor. Nascido nas Ilhas Fiji, o escritor e antropólogo Epeli Hau’ofa é autor do livro “Our Sea of Islands” (Nosso mar de ilhas), inédito no Brasil, e defende que os habitantes desses arquipélagos são historicamente grandes viajantes. A diferença é que, em vez de expandir seus horizontes, agora eles vão viajar porque a casa deles deixará de existir.
Fonte: istoe.com.br |N° Edição: 2211 | 23.Mar.12 - 21:00 | Atualizado em 24.Mar.12 - 21:33Todo começo de ano, os kiribatianos são lembrados de que a necessidade de arrumar as malas se aproxima. Cada vez mais violentas, as ondas invadem as ruas de areia do arquipélago, destroem casas, espalham lixo e criam gigantescas poças permanentes. Outras soluções foram imaginadas. Primeiro, cercar as ilhas com paredões, ao custo de US$ 1 bilhão cada um. Pelo dobro disso, o governo cogitou produzir ilhas artificiais e flutuantes, similares às plataformas de petróleo. Nenhuma das ideias se mostrou viável.
O presidente Anote Tong não viu outra saída que não bater na porta do governo das Ilhas Fiji e iniciar a negociação para a compra de uma área de 20 quilômetros quadrados para dar uma nova casa para os kiribatianos. Tong não planeja embarcar todos os seus conterrâneos de uma vez. “Eles precisam encontrar empregos, não na condição de refugiados, mas como imigrantes com habilidades para oferecer”, disse ele em entrevista ao Canal One, de Fiji. Para facilitar a adaptação dos kiribatianos ao novo território, o governo já colocou em prática o programa Educação para a Migração.
De longe, moradores de outras ilhas acompanham com apreensão o caso de Kiribati. Se as previsões mais pessimistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas se confirmarem, os oceanos chegarão ao final do século 59 cm mais altos. Isso varreria do mapa o arquipélago de Tuvalu e as Ilhas Maldivas. Por enquanto, os tuvaluanos ainda acreditam que diques e muros podem resolver o problema. Mais atento ao exemplo de Kiribati, o governo das Maldivas já estuda comprar terras em outros países.
Para quem estuda os povos que se espalham pelas ilhas do Pacífico, o fato de as migrações forçadas pelo clima começarem por ali é um problema menor. Nascido nas Ilhas Fiji, o escritor e antropólogo Epeli Hau’ofa é autor do livro “Our Sea of Islands” (Nosso mar de ilhas), inédito no Brasil, e defende que os habitantes desses arquipélagos são historicamente grandes viajantes. A diferença é que, em vez de expandir seus horizontes, agora eles vão viajar porque a casa deles deixará de existir.
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