Avanços do Mar (CE)

EDITORIAL | DIÁRIO DO NORDESTE

Os episódios de avanço do mar no litoral cearense são constantes, enquanto escasseiam os estudos técnicos sobre seu comprometimento e providências capazes de evitar a destruição das faixas de praia exatamente onde elas são balneáveis.

No Litoral Oeste, esse processo é atribuído à interferência humana, ao promover alterações nas correntes marítimas com a construção do Porto do Mucuripe, ao longo das décadas 1930 a 1960. A modificação na paisagem geográfica, imposta pelas obras do cais, resultou na destruição parcial da Praia de Iracema e sua continuidade até a Praia do Icaraí, em Caucaia.

A solução técnica aplicada, a partir da confluência das avenidas Rui Barbosa e Raimundo Girão, com a construção de sucessivos espigões, somente serviu para empurrar os problemas, de praia em praia, possibilitando a deformação da orla marítima e inviabilizando o banho de praia. O mar foi contido, mas seu avanço transferido para outras áreas.

A construção do Porto do Mucuripe é obra de importância inquestionável, especialmente quando abre um vasto leque de oferta de serviços de cabotagem, em razão do aprofundamento da bacia de evolução para comportar embarcações com até 15 metros de calado. O Mucuripe complementa a estrutura do porto do Pecém.

Mas os estragos não ocorrem apenas no Litoral Oeste. Mesmo sem obras de porte interferindo no movimento das marés, eles estão acontecendo também no Litoral Leste, afetando as praias de Barreiras, Barrinha e Redonda, no município de Icapuí; a de Parajuru, em Beberibe; e as praias de Cascavel. Ou seja: a destruição da orla se expande.

O Ceará conta com um litoral de 538 quilômetros, potencialmente rico, à espera de empreendedores. Os extremos se confrontam nesse ponto. A divisa entre o Ceará e o Rio Grande do Norte é dotada de praias belíssimas, explorada apenas por grupos de visitantes que se aventuram no prazer de sua descoberta.

No confins do Ceará com o Piauí, a cidade de Camocim dispõe de praias igualmente belas, situadas no espaço citadino, à espera de quem se interessa por praias desertas, calmas, sem poluição, mas também sem infraestrutura de apoio ao turista. Um hotel de boa categoria, instalado na faixa de praia da cidade, não prosperou por falta de clientela.

Nesse meio de indiferença ao socorro da natureza, os estudos acadêmicos começam a surgir, oferecendo soluções para o equacionamento dos problemas litorâneos. O Instituto de Ciências do Mar, da UFC, concluiu análise comprovando a existência de aspectos geológicos, de dinâmica dos ventos e de estrutura da bacia sedimentar da região de Icapuí interferindo no regime das marés.

A pesquisa aponta, ainda, haver movimentação de placas tectônicas no processo de distanciamento entre os continentes americano e africano. Esse fato provoca desde os tremores ocorridos com regularidade em Sobral a mudanças na estrutura da bacia sedimentar de Icapuí. O movimento tectônico causaria um provável arqueamento de blocos de rochas pressionados por falhas geológicas nas bordas da bacia potiguar.

Para o Ministério do Meio Ambiente, o aquecimento global e a intervenção humana indiscriminada farão o nível do mar aumentar cada vez mais. Por isso, 42 milhões de brasileiros serão deslocados de seu habitat natural até o fim do século. Isso já explica, em parte, o desaparecimento parcial das praias. Com maior razão, o fenômeno merece ser tecnicamente acompanhado de perto. 
Fonte: Diário do Nordeste

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