A praia, o que é que eu tenho a ver com isso?

Análise sobre a situação de nossa orla, pelo arquiteto e urbanista Carlos Henrique Nóbrega
Encontrei um veranista reclamando por Itapoá não ter mais PRAIA, disse que por este motivo irá vender sua casa de PRAIA. Já um amigo meu que estava pensando em comprar um imóvel em Itapoá, desistiu da ideia, pois Itapoá não tem mais PRAIA. Consequentemente ele não irá mais contratar um engenheiro ou arquiteto para elaborar o projeto da casa de PRAIA dos seus sonhos. Tampouco vou gastar com topografia, terraplanagem e material de construção, e muito menos desembolsar dinheiro para remunerar o pessoal da mão de obra, pois não tem sentido construir uma casa de PRAIA em um lugar que não tem mais PRAIA.

Fico imaginando como será o futuro de quem trabalha no ramo da Construção Civil (arquitetos, engenheiros, topógrafos, pedreiros, pintores, carpinteiros, empreiteiros, materiais de construção, empresas de terraplanagem, entre outros). O setor imobiliário também será fortemente afetado, sem PRAIA todos querem vender e ninguém quer comprar, o resultado é devastador.
Se as pessoas que pretendiam adquirir um imóvel e construir sua casa de PRAIA em Itapoá, não mais o farão por não ter mais PRAIA. Também não irão arcar com IPTU, Taxa de Lixo, Iluminação Pública, Água e Luz.

Se os próprios moradores não estão animados com o estado das PRAIAS de Itapoá, imaginem só o que devem pensar os turistas e veranistas. Sem turistas e veranistas todo o comércio itapoaense padecerá, simplesmente por Itapoá não ter mais PRAIA.

Os lindos 32 km, que na verdade são 27 km, de belas e límpidas PRAIAS de areias brancas que no passado foi o principal produto para atrair turistas e veranistas para Itapoá, hoje pode ser motivo de denúncia no PROCON.

Não vamos ser hipócritas! O litoral catarinense está repleto de belas PRAIAS e não vamos atrair ninguém com a situação que vem se agravando. Hoje em dia boa parte de nossas PRAIAS encontram-se cheias de entulhos e montes de pedras colocadas por moradores ou veranistas que, no desespero de proteger seu património e na inércia de ação do Poder Público, são obrigados a se defender como podem e, por isto acabam sendo processados e em casos mais extremos, são até presos por crime ambiental.
Que saudades das PRAIAS de Itapoá, que marcaram minha infância, com sua extensa faixa de areia, onde era possível andar metros e metros até chegar ao mar. Jogávamos futebol, vôlei, betes, malha e ficávamos extasiados com tanta dimensão e beleza.

Estava comentando esta situação com um amigo meu do Braço do Norte, ele a principio se sentiu aliviado por morar na área rural e não depender da PRAIA. Infelizmente até o agricultor que mora na Jaca, Saí Mirim e no Braço do Norte será afetado com a degradação de nossas PRAIAS. Afinal, grande parte dos impostos e taxas que mantém os serviços públicos de abastecimento de água, luz, coleta de lixo, saúde, educação, obras, entre outros, são pagos por veranistas que vem, ou pelo menos vinham, a Itapoá pelas suas belas PRAIAS. Mas sem PRAIA, não virão mais.

Além dos aspectos econômicos que, em consequência da degradação da PRAIA, certamente afetarão a todos os itapoaenses, não podemos esquecer que a PRAIA é um dos espaços públicos mais democráticos que existem! Ali todas as classes sociais, do mais rico ao mais pobre, todas as idades, jovens e idosos, pessoas de todos os sexos, raças e religiões convivem e usufruem do espaço como uma opção de lazer. Mas se não tiver mais espaço? Em Itapoá isto é ainda mais problemático, pois a população tem restritas opções de lazer além da PRAIA.

OPINIÃO

Acredito que a hora é de unir esforços para resolver o problema. Destaco que o entendimento das causas de um problema é fundamental para sua resolução e esta importante etapa, que tive a oportunidade de participar ativamente, já está consolidada com os trabalhos dos renomados Professores Ângulo e Maria Cristina e, mais recentemente, pelo trabalho da Coastal Planning & Engineering, empresa multinacional de consultoria ambiental. Para informações técnicas mais precisas sobre os estudos citados acredito que ambos devem estar disponíveis no site da Prefeitura Municipal de Itapoá. Vamos ser realistas, as soluções para este tipo de problema levarão tempo e demandarão grandes investimentos. No entanto, toda grande caminhada começa com o primeiro passo. Não devemos desanimar, pois se isto acontecer só nos resta a extinção das PRAIAS de Itapoá e o sepultamento do Veraneio e do Turismo, secando, de uma vez por todas, a fonte de renda de grande parte dos itapoaenses.

COMO RESOLVER O PROBLEMA?
Problemas complexos devem ser divididos em etapas mais simples. A primeira etapa deve ser a contratação de um projeto e do respectivo estudo de impacto ambiental. Afinal, sem projeto e sem licença ambiental não se consegue recursos e não se executa obra! Sem isto não sairemos de discursos.

QUEM DEVE CONTRATAR O PROJETO E O ESTUDO AMBIENTAL?
Acredito que o agente indutor deste processo deva ser a Prefeitura Municipal de Itapoá, com acompanhamento e fiscalização da Câmara de Vereadores. Entendo que o Município não tem recursos próprios para executar a obra, mas a falta de recurso não é uma justificativa para não se contratar o Projeto e o Estudo de Impacto Ambiental.

QUEM PAGARÁ ESTÁ CONTA?
Após a execução do projeto e a obtenção da licença ambiental as fontes de recursos podem ser diversas, como a União, o Estado e o próprio Município. Recursos existem o que não existem são projetos consistentes com suas respectivas licenças ambientais.

OS PORTOS, ONDE ENTRAM NESTA HISTÓRIA?
Como já apontado no Estudo de Impacto Ambiental da Dragagem do Canal de Acesso aos Portos de São Francisco do Sul e Itapoá, e no Estudo elaborado pela Coastal Planning & Engineering, a areia dragada é plenamente compatível (granulometricamente e sem contaminação) com as PRAIAS de Itapoá. Neste sentido acredito que, caso a engorda da PRAIA faça parte da solução indicada no projeto, às areias provenientes das futuras dragagens do canal de acesso aos portos devam ser aproveitadas como uma jazida de oportunidade para engorda da PRAIA.

E O QUE É QUE EU TENHO A VER COM ISSO?
Deixo esta pergunta para reflexão individual de cada leitor. Se cada um se sensibilizar com o estado de nossas PRAIAS e mobilizar-se, dentro de suas possibilidades, já é um grande passo para que o futuro da ORLA de Itapoá seja tão promissor quanto à expectativa projetada para a nossa Cidade.

Carlos Henrique Nóbrega
Arquiteto e Urbanista
Cidadão Itapoaense

Fonte: Gazeta de Itapoá

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