Moradores buscam solução para erosão que atinge faixa de areia em Itapoá

Associações de moradores criaram o movimento “SOS – A orla de Itapoá pede socorro”
Ao redor do farol de Itapoá, pedras tentam conter o avanço do mar - Fotos: Claudia Baartsch / Agencia RBS

Não é de hoje que os moradores de Itapoá notam que a faixa de areia das praias está sumindo. O mar avança com rapidez e tem tirado o espaço dos banhistas e de casas. Em janeiro deste ano, 11 associações de moradores se uniram para tentar mudar a situação.

Elas criaram o movimento “SOS – A orla de Itapoá pede socorro” para sensibilizar a população e o poder público sobre o problema. O assunto foi discutido nesta quinta, em uma palestra e debate com o engenheiro civil especialista em obras de defesa costeira Marcos Lyra.

A situação é grave na praia do Pontal do Norte. O pequeno farol, um dos pontos turísticos da cidade, está sendo tomado pelas águas. O guarda-vidas Michel de Jesus Veiga, 24 anos, trabalha na região há três anos.

— A cada ano a situação piora. Não tem mais como caminhar na areia —, observa.

O comerciante Luiz Martendal, 47, mora há 30 na região e lembra que existia um campo de futebol ao lado da faixa de areia, que sumiu com o tempo.

— Em todo o lugar o mar está tomando conta —, lamenta.

A presidente da Associação de Moradores do Cambiju (Ambiju), Ivone Jock Granado, 62, lamenta a situação da praia do Cambiju. Ela mora perto da orla e precisou criar um muro de pedras para barrar o avanço do mar.

— Quando comprei a casa, em 1997, passava uma rua em frente. O mar avançou tanto que não tem mais rua.

Ela é uma das coordenadoras do movimento, junto com Bruno Afonso Rodrigo, 62, da Associação de Moradores Rosamar, e de Renato Goldschmidt, da Fundação Pró-Itapoá.

— Nós cansamos de procurar por culpados pelo problema. Dois grandes estudos foram realizados e não foram conclusivos. Agora queremos uma solução —, avisou Bruno.

Para debater o assunto, o especialista Marcos Lyra falou sobre dissipadores de energia bagwall. O sistema já é utilizado em praias do Ceará e de Alagoas e pode ser uma alternativa para a região.

Trata-se de um dissipador natural de energia das ondas do mar, que serve para conter o avanço da água e recuperar a faixa de areia. Esta contenção pode ser feita com concreto – em forma de escadas – ou pedras.

— Desde o fechamento do canal do Linguado, na década de 1930, que a faixa de areia está diminuindo. Queremos procurar uma solução, sugestões para resolver este problema definitivamente —, explicou o organizador da palestra, o advogado e jornalista Mauro Sfair.

Por enquanto, a Prefeitura de Itapoá não prevê nenhuma obra para alargar a faixa de areia.

— Tivemos conversas com empresas para analisar as obras de contenção. Mas não temos nenhum projeto definitivo de uma obra rápida e barata —, afirmou o secretário de Planejamento, Rafael Vida Almeida.

Estudos são inconclusivos

Moradores apontam a dragagem feita anualmente no canal do Linguado, pelo Porto de São Francisco do Sul, como uma das possíveis razões para o encurtamento da faixa de areia. “Não podemos comprovar, mas a areia que eles retiram do fundo é preenchida, possivelmente pela areia da praia”, avalia Ivone.

De acordo com a assessoria de imprensa do Porto Itapoá, que também utiliza o local, “o canal de acesso à Baía da Babitonga já sofreu diversas dragagens ao longo dos anos para viabilizar a operação do Porto de São Francisco. Obviamente que o Terminal de Itapoá é favorecido de alguma forma por essa dragagem, mas não temos como nos responsabilizar por ações retroativas à nossa operação. O que estamos fazendo é nos mostrando parceiros e apoiadores de todas as ações possíveis para a solução deste problema”.

O geógrafo e professor Celso Voos Vieira acredita que é impossível explicar a razão da erosão. “Há imagens históricas que comprovam a degradação da praia. Existem suspeitas de que a dragagem poderia ter influenciado, mas nenhum estudo comprovou.”

Um estudo feito em 2011 pela empresa Coastal Planning and Engineering do Brasil apontou a situação. “O alto dinamismo da região, antes mesmo da ocorrência de dragagens, indica que a dragagem do canal não é a única causadora da erosão, havendo uma parcela associada a processos naturais.”

O engenheiro florestal do Porto de São Francisco, Tomás Baptista, cita este estudo. “O processo de erosão é um evento natural que ocorre ao longo da costa brasileira e não é exclusivo de praias de áreas portuárias”, explica.
Fonte: A Notícia - Santa Catarina

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