Marco Lyra falou à GAZETA antes de retornar a Maceió

O engenheiro Marco Lyra, que veio a Itapoá a convite da GAZETA e do Porto Itapoá, concedeu esta breve entrevista ontem, no Restaurante do Francês, antes de embarcar para Maceió. Confira a seguir as nossas dúvidas, levantadas ao especialista em erosão costeira


GI- Como a população pode resolver o problema das pedras na praia?


Marco Lyra: A Constituição Federal nos garante o direito de ir e vir do cidadão. Portanto quando colocam pedras na praia há o cerceamento do direito legítimo do acesso do cidadão a esse bem público. Cabe a população se organizar e exigir seus direitos, inclusive participando ativamente do processo decisório das ações que sejam realizadas nessas áreas.


Todos nós precisamos discutir e aprofundar a questão da cidadania ambiental, principalmente nas questões ligadas ao litoral, onde também há uma forte pressão imobiliária e turística. Portanto há necessidade dos Governos Federal, Estadual e Municipal adotarem um planejamento estratégico para garantir a sustentabilidade desse importante ecossistema. O Projeto Orla do Governo Federal é o ponto de partida para a implantação do Zoneamento Econômico e Ecológico Costeiro e para Gestão Costeira Integrada do litoral do Brasil.




GI – Qual a solução para remover todos esses escombros nas praias?


Marco Lyra: É preciso analisar o problema existente dividindo as ações a serem realizadas em duas etapas: ações de curto prazo e ações de médio prazo.


Nas ações de curto prazo estão as emergências que estão batendo à porta. É preciso ação para conter a erosão nessas áreas. Porém é preciso ter o cuidado na escolha da obra de engenharia a ser instalada, o ambiente litorâneo é um sistema caótico, portanto as obras emergenciais devem ser realizadas de forma a criar o menor impacto possível na área.

Nas ações de médio prazo é necessário intensificar o monitoramento continuo da área em questão, para que se possa acompanhar a evolução do quadro subsidiando informações para a necessidade de futuras ações preventivas para região.




GI – O que fazer quando o mar avança e destrói o patrimônio das pessoas?



Marco Lyra: Normalmente como medida emergencial, os proprietários dos imóveis colocam pedras na praia na tentativa de salvar seus respectivos patrimônios. Em determinadas circunstâncias de forma paliativa, essa é uma medida quase inevitável. É importante observar que a colocação de pedras na praia aumenta o processo erosivo no local.


Hoje no mundo temos tecnologia para construir ilhas dentro do mar, veja o exemplo de Dubai. O problema não é a tecnologia de engenharia para construir, é quanto estamos dispostos a pagar para resolver o problema. Quando o mar avança em áreas já urbanizadas temos soluções que podem ser a remoção da população local, a exemplo do que ocorreu no Povoado Cabeço em Sergipe, ou podemos construir obras de defesa costeira a exemplo do que fez o município de Caucaia – CE que sofria a mais de 15 anos sem poder utilizar a praia do Icaraí e optou pela construção do Barra Mar Dissipador de Energia Bagwall e hoje a praia encontra-se recuperada no local onde foi instalada a obra.

Portanto, deixamos um alerta aos estados e municípios que estejam enfrentando esse tipo de problema. É preciso avaliar o custo benefício das obras a serem implantadas, de preferência visitando e observando os resultados já existentes dessas obras onde foram implantadas, para não correr o risco de jogar dinheiro público ao mar.




GI – Fale sobre a importância de apresentar as experiências ocorridas no Nordeste

Marco Lyra: Porque elas obtiveram êxito no controle da erosão costeira em áreas urbanizadas. Essas obras foram construídas de forma pioneira no Brasil em Alagoas e no Ceará. As intervenções com uso do Barra Mar Dissipador de Energia Bagwall em regiões completamente distintas do ponto de vista geológico, geográfico, morfológico, e hidro-dinâmico, os resultados finais após a intervenção foram os seguintes: contenção do avanço do mar sem transferir o processo erosivo para áreas adjacentes; recomposição do perfil de praia com engorda natural no local da intervenção; facilitação do acesso da população à praia recreativa e o baixo custo de manutenção das obras instaladas. Nas obras construídas há mais de oito anos, não foi gasto nenhum centavo com manutenção.


GI – Essa experiência poderia ser feita nas praias de Itapoá?


Marco Lyra: Com certeza isso é possível. Os resultados positivos obtidos no Nordeste induzem a observação de que o Dissipador de Energia Bagwall tem apresentado como resultado final após sua construção a recuperação ecológica da praia. As coincidências constantes nos quatro casos de sucesso no controle da erosão em áreas urbanas indicam ser fundamental expandir-se a experiência, inclusive utilizando-a em outras regiões.


GI – Suas considerações finais


Marco Lyra: Agradeço a oportunidade de mostrar a vocês, cidadãos da beira-mar, a forma como estamos barrando o avanço do mar no Nordeste. Tenho certeza de que esta é uma solução apropriada e relativamente a baixo custo. Estou a disposição sempre para maiores esclarecimentos.


Fonte: Gazeta de Itapoá

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