Inseguro, Espigão Costeiro está sendo tomado pela areia

Boa parte das pedras que formam a cabeceira da obra inacabada já foi encoberta; local ainda não tem proteções laterais

A chegada do inverno e a fúria do mar, provocada pelos ventos e chuvas que começam a cair em São Luís, preocupam moradores e comerciantes da praia da Ponta d’Areia. A construção do Espigão Costeiro - que foi anunciada pelo governo estadual como solução definitiva para o problema do avanço do mar - ainda não cumpriu seu papel, de conter a força da maré. E pior: agora o Espigão está sendo tomado pela areia, fato visível em vários pontos da obra. Boa parte das pedras que formam a cabeceira do Espigão já foi encoberta.

A segurança no Espigão Costeiro também continua deixando a desejar. As telas de proteção de plástico - que efetivamente nada protegiam, e estavam presas por pedaços de pau - já foram arrancadas pelo vento e pela força da maré.

Em setembro do ano passado, a Secretaria de Estado de Infraestrutura (Sinfra) informou, logo após a morte de um homem no Espigão, atingido por uma pedra que deslizou, que a segunda etapa da obra incluiria a instalação de equipamentos de segurança, como guarda-corpo e placas de sinalização. Porém, nada disso foi feito até o momento.

Prédios ameaçados - Assim como no Espigão, as pedras colocadas em outros trechos críticos da orla da Ponta d’Areia igualmente não surtem efeito contra a invasão das águas. Muitos coqueiros localizados perto do Hotel Praia Mar, na Avenida São Marcos, por exemplo, já foram arrancados pela maré alta. E os poucos que restaram estão seriamente ameaçados, uma vez que são sustentados apenas pelas raízes.

A maré já engoliu também metade da Avenida São Marcos, no trecho próximo ao Trapiche Reggae Bar, fazendo com que veículos e pedestres trafeguem na contramão.

Como resultado da ineficiência do Espigão Costeiro, o assoreamento galopante na península da Ponta d’Areia continua ameaçando os prédios e construções de uma das áreas mais valorizadas da capital maranhense.

“Moro em um condomínio recém-construído, aqui nas imediações. Da minha sacada vejo o mar, a vista é linda e inigualável. Mas quando vejo outros condomínios com dezenas de placas de venda fico com medo de ter feito um mau negócio. Corro por aqui todos os dias e vejo os estragos que o mar tem provocado. As águas têm avançado muito rápido e isso me preocupa. Pensei que o Espigão seria mais eficaz”, disse ao Jornal Pequeno o administrador de empresas Ronald Melo, de 39 anos, morador da Ponta d’Areia.

O vendedor de cocos Cícero Dias, 42, que trabalha no ramo há mais de 20 anos, revelou que sempre teve vontade de montar o próprio negócio, num ponto fixo da Ponta d’Areia, porém falta coragem.

O sonho de Cícero foi adiado, segundo ele por conta dos fenômenos naturais e da “falta de compromisso das autoridades competentes em proteger os comerciantes que trabalham no local”.

“Já cansei de ver as pessoas gastando o pouco que tem com sacos de areia, pedras e cimento, na tentativa de impedir que o mar avance e engula tudo o que vê pela frente. Por isso, vou ficar só com meu carrinho mesmo, assim evito prejuízos. Esse Espigão está aí só de enfeite, não serve para nada. Outro dia chegou um caminhão aqui e jogou umas pedras em alguns trechos da orla, mas isso não adianta muito. A água quando vem não quer nem saber, sai passando por cima de tudo”, disse o ambulante.

A favor do Espigão - Mas há quem discorde da inutilidade do Espigão Costeiro. O capitão Epifânio, do Corpo de Bombeiros, é uma dessas pessoas. Segundo ele, foi antes da construção do Espigão que o trecho da pista da Avenida São Marcos, próximo ao Trapiche, cedeu.

Para o capitão, as ondas diminuíram bastante na área próxima ao Espigão, e os bombeiros utilizam o local, inclusive, para realizar treinamentos.

“Um trecho da praia ficou bem melhor depois que o Espigão foi construído. As ondas já não têm mais força e a correnteza é bem mais fraca. Está parecendo uma piscina natural, e por conta disso realizamos treinamentos nesse trecho”, disse o bombeiro.

Por POR OSWALDO VIVIANI e JULLY CAMILO


Secretário Max Barros diz que Espigão cumpre sua função

Questionado pelo JP por telefone, na manhã de ontem (11), o secretário Max Barros (Infraestrutura) disse que o Espigão está cumprindo sua função, e prova disso é exatamente o acúmulo de areia que se verifica na cabeceira da obra. Segundo o secretário, o Espigão proporcionará a recomposição da faixa de areia num processo lento e gradual, que só será concluído em cerca de 10 anos.

Quanto à segurança do Espigão, Max Barros afirmou que no mais tardar em abril terá início a etapa final da obra, que prevê, além da implantação de estruturas laterais de proteção no Espigão, a urbanização de toda a orla adjacente. “Está incluída nessa reurbanização a recuperação do trecho da avenida que cedeu, perto do Trapiche Bar, embora esse tipo de obra em via pública seja responsabilidade da Prefeitura”, disse Barros.

O secretário garantiu que o avanço do mar não vai se agravar e que os prédios da península da Ponta d’Areia não correm nenhum risco.

A Sinfra informou que uma equipe será enviada ao Espigão para reforçar a segurança no local. (OV)
Fonte: Jornal Pequeno

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