Erosão costeira: “Está a deitar-se dinheiro ao mar”

A associação ambientalista Quercus alerta para o elevado custo de requalificar a faixa costeira portuguesa, onde mais de dois terços correm risco de erosão, considerando que em alguns casos é preferível retirar as populações ameaçadas.

Especialista critica o recurso sistemático a intervenções de emergência em zonas de risco, considerando que "em muitos casos está a deitar-se dinheiro ao mar"
"É realmente muito complicado fazer contas aos milhões de euros necessários para intervir em muitas das zonas ameaçadas de erosão costeira", defendeu, em declarações à Lusa, Francisco Ferreira, vice-presidente da Quercus.  
      
O especialista critica o recurso sistemático a intervenções de emergência em zonas de risco, considerando que "em muitos casos está a deitar-se dinheiro ao mar".         

Na Praia de Mira, Coimbra, está a ser reposta a duna, com colocação de sacos de areia, para proteger o cordão dunar e as habitações situadas a 50 metros do areal. Na próxima semana deverão começar as obras de reforço do cordão dunar em Castelo de Neiva, Viana do Castelo, para proteger três habitações.

Nos últimos dias, a subida do mar em Moledo, no mesmo distrito, já levou os autarcas a chamar a atenção para a urgência da consolidação da duna primária.          

"É sempre nestas alturas que intervimos, porque nunca há capacidade de antecipar estes acontecimentos, que são previsíveis", criticou Francisco Ferreira, para quem as obras são sempre feitas "a jusante", ignorando-se as causas.

PROBLEMA ESTÁ NOS ERROS DE ORDENAMENTO         

O responsável da Quercus lembrou que, entre os factores que explicam o avanço do mar e a erosão costeira estão as intervenções nas barragens, a construção de paredões e pontões, dragagens, as alterações climáticas e ocupação humana de zonas "que era muito importante estarem preservadas".        

"Importa saber se há dinheiro para lidar com este tipo de fenómenos, que no futuro vão agravar-se mais, com a subida do nível do mar devido às alterações climáticas", alertou.         

Os ambientalistas defendem por isso que "é preferível, nalguns casos, retirar as populações, não há outra saída com custos razoáveis".

Mira, Costa de Caparica, ria Formosa (ilha de Faro, onde o Polis já prevê a retirada das populações), mas também áreas afectadas nos últimos dias pelo avanço do mar, como Moledo (Caminha) ou Castelo de Neiva são exemplos avançados pela Quercus.          

O problema "tem a ver directamente com os erros de ordenamento, agora é demasiado caro contrariar a Natureza".          

Francisco Ferreira alerta que "tem sido feita muita asneira por especialistas portuários", como a construção de determinados pontões, obras de grande dimensão que depois têm influência a sul ou a norte, intervenções que, ressalvou, "têm alimentado muitos negócios".

Segundo o estudo Alterações Climáticas em Portugal, Cenários, Impactos e Medidas de Adaptação, de 2005, 67 por cento do território continental está em risco de erosão costeira.



Fonte: Correio da Manhã - Portugal | http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/portugal/erosao-costeira-esta-a-deitar-se-dinheiro-ao-mar

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