Dissipador de energia pode conter erosão na Ponta D'areia, em São Luís.
Marco Antônio de Lyra Souza*, especial para o Blog do Maurício Araya
Vida e a engorda natural da areia da praia de Icaraí, em Caucaia, no Ceará, é o resultado do trabalho de contenção do avanço do mar proporcionado pelo Barra Mar Dissipador de Energia Bagwall, instalado no local. As fotos comprovam que a praia já ganhou uma faixa de areia com mais de 40 metros. Quem foi ao Icaraí, surpreendeu-se ao ver as crianças brincando na areia da praia, peladeiros jogando futebol de areia, surfistas, ambulantes e transeuntes. Enfim, a praia ganhou vida, coisa que há mais de 15 anos não se via.
O Ceará é o primeiro Estado do Brasil fora de Alagoas a utilizar essa tecnologia americana de sucesso no combate à erosão costeira. Os resultados iniciais obtidos na praia de Icaraí são excepcionais. Esta é uma obra de engenharia que tem sua eficácia comprovada no controle da erosão costeira em áreas urbanas, onde além de conter o avanço do mar na linha de costa sem transferir o processo erosivo para áreas adjacentes. O local, que antes estava em erosão, passa a ocorrer a recuperação do perfil da praia com a engorda natural no local da intervenção.
A obra do Icaraí é a quarta realizada no Brasil utilizando essa tecnologia em condições geológicas, morfológicas e hidrodinâmicas distintas, onde o resultado final foi exatamente o mesmo: contenção do avanço do mar sem transferir o processo erosivo para áreas adjacentes; recuperação do perfil de praia com a engorda natural e a facilidade de acesso da população da praia à praia recreativa. Com isso, pode-se afirmar que esta solução de engenharia é talvez a menos impactante no caótico ambiente costeiro.
Já reparou nas formas do litoral? Existem ilhas quadradas? A modelagem da linha de costa deve-se a um conjunto de forças complexas que atuam no ambiente costeiro, formando o padrão existente.
O que fazer quando o mar avança e destrói o patrimônio das pessoas? Normalmente como medida emergencial, os proprietários dos imóveis colocam pedras na praia na tentativa de salvar seus respectivos patrimônios. Em determinadas circunstâncias, de forma paliativa, essa é uma medida quase inevitável. É importante observar que a colocação de pedras na praia aumenta o processo erosivo no local.
Hoje, no mundo, temos tecnologia para construir ilhas dentro do mar, veja o exemplo de Dubai. O problema não é a tecnologia de engenharia para construir, é quanto estamos dispostos a pagar para resolver o problema. Quando o mar avança em áreas já urbanizadas, temos soluções que podem ser a remoção da população local, a exemplo do que ocorreu no povoado Cabeço, em Sergipe, ou podemos construir obras de defesa costeira a exemplo do que faz Portugal, onde, em 2009, gastou com reposição de aterro hidráulico de praias cerca de 36 milhões de euros e, em 2010 pretende gastar cerca de 100 milhões de euros.
Portanto, é importante alertar aos Estados e aos municípios que enfrentam esse tipo de problema o seguinte: é preciso avaliar o custo–benefício das obras a serem implantadas, de preferência visitando e observando os resultados já existentes dessas obras onde foram instaladas, para não correr o risco de jogar dinheiro público ao mar.
Observando-se o que está acontecendo na praia de Pontal d’Areia, em São Luís, verifica-se que a situação é caótica. É preciso analisar o problema dividindo as ações a serem adotadas em duas etapas: ações de curto prazo e ações de médio prazo.
Nas ações de curto prazo estão as emergências que ocorrem nas áreas já urbanizadas, onde as opções podem ser a remoção da população existente do local de risco, ou torna-se necessário a execução de obras de defesa costeira para conter o processo erosivo como resposta ao desastre, a exemplo do que ocorreu nas praias de Fortaleza, onde ao longo do século XX foram construídos 12 espigões e engorda artificial de praia, essas obras transferiram o processo erosivo para as praias do vizinho município de Caucaia, que, hoje, sofre forte processo erosivo desde a praia Iparana até a praia do Icaraí.
Nas ações de médio prazo, que, também, são urgentes, faz-se necessário a instalação do Zoneamento Econômico e Ecológico Costeiro em todos os municípios litorâneos, para que, a partir da determinação dessas áreas, inclusive incluindo-as nos respectivos planos diretores das cidades, sejam elaborados planos de gerenciamento costeiro integrados, como instrumento para garantir o crescimento sustentável do litoral brasileiro.
Antes de escolher qual a solução de engenharia deve ser utilizada na obra de proteção costeira, é necessário verificar se a obra que está sendo proposta já foi utilizada em outro local, há quanto tempo ela está funcionando, qual a sua durabilidade, qual o custo de manutenção, qual o impacto ambiental após a sua implantação, sem a utilização desses critérios para escolha da obra de engenharia, corre-se um sério risco de perder todo o investimento feito na obra.
O Barra Mar Dissipador de Energia Bagwall tem uma durabilidade de até 30 anos, e as duas primeiras obras construídas no Brasil a mais de sete anos, nenhum centavo foi gasto com manutenção.
Veja o vídeo exibido no I Simpósio Alagoano de Engenharia Civil (Saec) a respeito da tecnologia de contenção ao avanço do mar em situações de erosão costeira:
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